As razões da aluna que não queria bagunça
As salas de aula precisam de regras firmes
Flora tem 14 anos e freqüentou escola nos Estados Unidos por dois anos. Um dia, de volta para casa depois das aulas no colégio em que se matriculou aqui – agora já no ensino médio – , dirigiu um comentário muito interessante ao pai:
“Não sei como os alunos conseguem aprender alguma coisa com a bagunça que fazem durante a aula!” Não, ela não se referia à vitalidade entusiasmada dos adolescentes e, sim, à confusão barulhenta que, em geral, costumam fazer quando estão em sala de aula.
Assim, de cara, até aprece que ela resolveu dar uma e moralista e superior, criticando os colegas do alto de sua experiência escolar no Exterior. Mas, na verdade, Flora criticou mesmo foi a instituição escolar. Ela tocou num ponto bastante delicado para boa parte das escolas, que não sabe muito bem como administrar os comportamentos chamados inadequados de seus alunos. Mesmo sem se dar conta, Flora interrogou, atualmente, um dos maiores entraves ao trabalho pedagógico: a indisciplina escolar.
A discussão sobre o assunto não é recente e, em geral, escolas e famílias fazem uma boa parceria nessa hora: adoram trocar acusações. Os educadores escolares insistem em afirmar que boa parte da responsabilidade por esse comportamento é das famílias, e para justificar levantam uma série de argumentos quase convincentes; os pais, na defesa, fazem o mesmo. Mas ambos concordaram em alguns pontos. Acreditam, por exemplo, que os meios de comunicação, principalmente a Tv, influenciam os jovens para o lado negativo e que a sociedade atual banaliza a violência e estimula a impunidade. Enquanto a discussão se desenvolve por esse lado e emperra sempre nos mesmos pontos, a bagunça em sala de aula, como disse Flora, continua. Mas a escola não pode abrir mão de sua responsabilidade em relação à disciplina.
Para praticar uma educação democrática, os professores precisam fazer seus alunos conhecer as regras praticadas no espaço escolar – e isso vai além da informação – e entender o sentido delas, bem como explicitar com clareza os limites de tolerância na convivência. Como as transgressões ocorrerão, pois fazem parte do jogo democrático, é preciso também que haja mecanismos reguladores, até que os alunos possam, eles mesmos, desenvolver seus mecanismos e controles. Isso significa que a escola não pode ser indulgente com determinados comportamentos de seus alunos e deve exigir que cumpram suas responsabilidades. Como ?
Bem, em primeiro lugar, é preciso que os professores ajam com coerência. Em segundo, que tenham disponibilidade para a reflexão permanente. Em terceiro, que não tenham receio de estabelecer os parâmetros com firmeza e aplicar, com justiça e sem moralismos, as sanções adequadas que se fizerem necessárias. Afinal, quantos cidadãos entregariam a declaração do Imposto de Renda na data-limite se não houvesse sanções previstas?
Rosely Sayão é diretora de conteúdo da revista Crescer.